ERA
OUTRA VEZ
Autor: Pedro Bandeira
Era uma vez, há muitos
e muitos anos, mais vinte
e cinco anos, uma senhora
de cabelos negros como o
ébano, onde já começavam a aparecer alguns fios brancos como a neve, bem
como da cor da pele dela, que também era branca
como a neve.
O nome da tal senhora era Branca Encantado. Nos tempos de
solteira, o sobrenome dela era
"De Neve", mas, depois que se casou com o príncipe Encantado, dona
Branca passou a usar o sobrenome do marido.
Dona Branca estava com uma barriga enorme, esperando seu
sétimo filho, para ser afilhado do
sétimo anãozinho, que vivia reclamando pelo fato de todos os outros anões já serem padrinhos de filhos
de dona Branca e faltar
um para ser afilhado
dele.
Dali a uma semana ia fazer vinte e cinco anos que dona
Branca havia se casado para ser feliz
para sempre. E, como você sabe, quem fica vinte e cinco anos casado com a mesma pessoa
faz uma bruta
festa para comemorar as Bodas de Prata.
Feliz com tudo isso, dona Branca tricotava um casaquinho
de lã para o principezinho que ia
nascer, sozinha no grande salão do castelo, forrado de mármore cor-de-rosa e
veludo vermelho. Os filhos estavam
na aula de esgrima e as filhas na aula de minueto. O Príncipe Encantado, como sempre, estava
caçando.
Foi aí que a grande
porta do salão abriu-se e entrou Caio, o lacaio,
anunciando:
- Alteza, a senhorita Vermelho
acaba de chegar ao
castelo e pede...
- Chapeuzinho?! - interrompeu dona Branca. - Que ótimo!
Peça para ela entrar.
Vamos, Caio, rápido!
Caio, o lacaio, inclinou-se numa reverência e foi buscar a visitante. Chapeuzinho Vermelho era a mais solteira das amigas de dona Branca e uma das poucas que não era princesa. A história dela tinha terminado dizendo que ela ia viver feliz para sempre ao lado da Vovozinha, mas não falava em nenhum príncipe encantado. Por isso, Chapeuzinho ficou solteirona e encalhada ao lado de uma velha cada vez mais caduca.
Dona Chapeuzinho entrou com a cestinha
pendurada no braço e com o capuz vermelho na cabeça.
Dona Branca correu para abraçar a
amiga.
- Querida! Há quanto tempo!
Como vai a vovozinha?
- Branca, querida!
As duas deram-se três beijinhos, um numa face e dois na outra, porque o terceiro era para ver se Chapeuzinho desencalhava.
- Minha amiga Branca! Por que você tem esses olhos tão grandes?
-
Ora, deixe de besteira, Chapéu!
-
Ahn... quer dizer...
desculpe, Branca. É que eu sempre me distraio... - atrapalhou-se toda a Chapeuzinho. - É que eu estou
sempre pensando na minha história.
(Pedro Bandeira. O fantástico mistério
de Feiurinha. São Paulo, FTD. P. 11 a 13. Coleção Terceiras Histórias)
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