A Coisa...
Autora: Ruth Rocha
A casa do avô de Alvinho
era uma dessas casas antigas, grandes, que têm dois andares
e mais um velho porão, onde a família
guarda tudo que ninguém sabe bem se quer ou não quer.
Um dia Alvinho resolveu
ir lá embaixo procurar uns patins que ele não sabia onde é que estavam.
Pegou uma lanterna, que
as lâmpadas do porão estavam queimadas, e foi descendo as
escadas com cuidado. No que foi, voltou aos
berros:
– Fantasma! Uma coisa
horrível! Um monstro de cabelo vermelho e uma luz medonha
saindo da barriga.
Ninguém acreditou, está
claro! Onde é que já se viu monstro com luz saindo da barriga?
Nem em filme de guerra
nas estrelas!
– A Coisa! – ele
gritava. – A Coisa! É pavorosa! Muito alta, com os olhos brilhantes, como se
fossem de vidro! E na cabeça uns tufos espetados pra todos os lados!
Nessa altura a família
começou a acreditar. E tio Gumercindo resolveu investigar. E voltou, como os
outros, correndo e gritando:
– A Coisa! É uma Coisa!
Com uma cabeça muito grande, um fogo na boca. É muito
horrorosa!
O Alvinho já estava
roendo as unhas de tanto medo.
Dona Julinha, a avó do
Alvinho, era a única que não estava impressionada.
– Deixa de bobagem,
Alvinho. Pra que esse medo? Fantasmas não existem!
– Mas meu medo existe! –
disse o Alvinho.
– Tá bem, tá bem, eu vou – disse Dona Julinha –
eu vou ver o que é que há...
E Dona Julinha foi tirar
a limpo o que estava acontecendo. Foi descendo as escadas
devagar, abrindo as janelas que encontrava.
A família veio toda
atrás, assustada, morrendo de medo do monstro, fantasma, alma
penada, fosse lá o que fosse.
Até que chegaram lá
embaixo e Dona Julinha abriu a última janela.
E AGORA, O QUE VAI
ACONTECER? Você está gostando da história? Ela é uma das
histórias do livro: “As aventuras do
Alvinho, que Ruth Rocha escreveu para leitores como você.
Então todos começaram a rir, muito
envergonhados.
A Coisa era... um
espelho!
Dona Julinha tinha
levado o espelho para baixo e tinha coberto com um lençol ( Dona Julinha não
tinha medo de fantasmas, mas tinha medo de raios...). Um dia o lençol
desprendeu e caiu e se transformou na...Coisa...
Cada um que descia as
escadas, no escuro, via uma coisa diferente no espelho. E todos eles pensavam que
tinham visto... A Coisa. A Coisa eram eles mesmos!
Não ria, não! Você já reparou como um espelho no escuro é esquisito?
Retirado do livro: As aventuras de Alvinho, De Ruth Rocha, Melhoramentos.
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