segunda-feira, 20 de março de 2023

Conto 08: "O pinto pelado"

                                          

                                                                O PINTO PELADO

                                                           (Conto de origem europeia)

      FOI UM DIA UM PINTO  PELADO  estava pinicando num terreiro, achou um papelzinho e disse: “Bravo!, vou levar esta carta ao rei, meu senhor.” E partiu. Chegando adiante, encontrou uma raposa, que lhe disse: 

       — “Aonde vai, pinto pelado?”

      —“Quirrichi; vou levar esta carta a rei, meu senhor.”                           

      — “Apois eu também quero ir.”

      — “Apois entre aqui no meu oveiro”, respondeu o pinto.

    A raposa entrou e o pinto seguiu. Chegando mais adiante encontrou um rio, que lhe perguntou: “Aonde vai, pinto pelado?”

      — “Quirrichi; vou levar esta carta a rei, meu senhor.”

      — “Eu também quero ir.”

      — “Apois entre aqui no meu oveiro.”

      Seguiu. Chegando adiante encontrou um espinheiro, que lhe perguntou: “Aonde vai, pinto pelado?”

     —“Quirrichi; vou levar esta carta a rei, meu senhor.”

     — “Eu também quero ir.”

     — “Apois entre aqui no meu oveiro.”

     Seguiu, e, depois de muito andar, foi ter no palácio do rei. Entrou e entregou a carta.

      O rei se zangou por aquele atrevimento do pinto lhe ir levar um papel sujo, e o mandou jogar entre as galinhas e galos do poleiro, que muito o espancaram. Aí o pinto largou a raposa que caiu em cima dos galos e galinhas e acabou com tudo. O pinto largou-se para trás a toda a pressa. O rei, quando deu por falta de suas galinhas, mandou pegar o pinto. Saiu gente atrás dele. Mas o pinto quando avistou a gente largou o rio.

       Foi água por cima do tempo, e a gente não pôde passar. Arranjaram canoas, e passaram sempre; mas o pinto pelado já estava longe. A tropa avançou na carreira, e quando ia chegando perto do pinto, ele largou o espinheiro e gerou-se no mundo aquela mata de espinhos muito grande e serrada que ninguém pôde varar. Então voltaram todos para trás e o pinto pelado teve tempo de chegar ao seu terreiro, onde ninguém mais o incomodou.

Extraído do livro "Contos populares do Brasil" de Sílvio Romero, disponível em https://cadernosdomundointeiro.com.br/pdf/Contos-populares-do-Brasil-2a-edicao-Cadernos-do-Mundo-Inteiro.pdf

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