O PINTO PELADO
(Conto de origem europeia)
FOI UM DIA UM PINTO PELADO estava pinicando num terreiro, achou um papelzinho e disse: “Bravo!, vou levar esta carta ao rei, meu senhor.” E partiu. Chegando adiante, encontrou uma raposa, que lhe disse:
— “Aonde vai, pinto pelado?”
—“Quirrichi; vou levar esta carta a rei, meu senhor.”
— “Apois eu também quero ir.”
— “Apois entre aqui no meu oveiro”, respondeu o pinto.
A
raposa entrou e o pinto seguiu. Chegando mais adiante encontrou um rio, que lhe
perguntou: “Aonde vai, pinto pelado?”
— “Quirrichi; vou levar esta carta a rei, meu senhor.”
— “Eu também quero ir.”
— “Apois entre aqui no meu oveiro.”
Seguiu. Chegando adiante encontrou um espinheiro, que lhe perguntou:
“Aonde vai, pinto pelado?”
—“Quirrichi; vou levar esta carta a rei, meu senhor.”
— “Eu também quero ir.”
— “Apois entre aqui no meu oveiro.”
Seguiu, e, depois de muito andar, foi ter no palácio do rei. Entrou e
entregou a carta.
O rei se zangou por aquele atrevimento do pinto lhe ir levar um papel
sujo, e o mandou jogar entre as galinhas e galos do poleiro, que muito o
espancaram. Aí o pinto largou a raposa que caiu em cima dos galos e galinhas e
acabou com tudo. O pinto largou-se para trás a toda a pressa. O rei, quando deu
por falta de suas galinhas, mandou pegar o pinto. Saiu gente atrás dele. Mas o
pinto quando avistou a gente largou o rio.
Foi água por cima do tempo, e a gente não pôde passar. Arranjaram canoas, e passaram sempre; mas o pinto pelado já estava longe. A tropa avançou na carreira, e quando ia chegando perto do pinto, ele largou o espinheiro e gerou-se no mundo aquela mata de espinhos muito grande e serrada que ninguém pôde varar. Então voltaram todos para trás e o pinto pelado teve tempo de chegar ao seu terreiro, onde ninguém mais o incomodou.
Extraído do livro "Contos populares do
Brasil" de Sílvio Romero, disponível em
https://cadernosdomundointeiro.com.br/pdf/Contos-populares-do-Brasil-2a-edicao-Cadernos-do-Mundo-Inteiro.pdf
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