segunda-feira, 20 de março de 2023

CONTO 33: " As proezas de Seu Lunga"

 


As proezas de Seu Lunga

Autor: Thiago Barbosa 


Seu Lunga é cabra de bem

Porém é muito nervoso

Em perguntas idiotas

O homem perde o gozo

Das faculdades mentais

Vira o próprio satanás

Solta um palavrão trevoso.

 

Certa feita ele levou

Seu cachorro prum passeio

Seu Zézinho exclamou:

"Um cachorro, eu não creio!"

Seu Lunga teve um entalo

Disse: "não, é um cavalo,

Não está vendo o arreio?"

 

Lunga foi ao restaurante

Puxou o banco e sentou

Veio um gentil garçon

Com fineza o perguntou:

--Senhor, vai querer comer?

--Não, vim aqui me benzer

No peito, um credo, cruzou.

 

Lunga foi a padaria

Comprou dois litros de leite

Um velho lhe perguntou:

--A bebida é pro deleite?

Ele disse: "não senhor,

Essa joça eu quero por

Na estante como enfeite".

 

O velho, ressabiado

Pôs-se logo a se explicar:

--Calma meu nobre senhor

Perguntei por perguntar

Queria puxar conversa

A coisa ficou dispersa

Não precisa se estressar.

 

Deu a besta fera em Lunga

Mais nervoso ele ficou

--Quer saber pra que é o leite?

Ele ao velho perguntou

--É pra lavar meu cabelo

Costas, ombros, pelo a pelo

Ali mesmo se banhou.

 

Lunga estava em um boteco

Tomando uma água-ardente

Sua esposa ali chegou

E em meio a toda gente

Disse: -- Lunga, seu safado,

Por que tá embriagado?

Eita cabra inconseqüente!

 

Lunga chegou até ela

Trôpego a cambalear

Com o bafo de cachaça

Começou a esbravejar:

-- Tomei dois litros de Fanta

Não está vendo, sua anta

O que vim fazer no bar?

 

Um belo carro de luxo

A famosa limosine

Chegou à concessionária

Tava exposta na vitrine

Lunga disse: --eu quero aquela

Dou até minha costela

Por aquela lamborguine.

 

O vendedor, à socapa,

Riu do momento bizarro

--Meu senhor, está enganado

Trocou o nome do carro

Lunga, bufando de raiva

Encorporou o Saraiva

Não adimitiu o sarro.

 

--Olhe aqui fi da broboinca

O automóvel é meu

Vou pagar com minha verba

Se entupa, seu fariseu

Dou o nome que eu quero

Joaquim, Chico ou Homero

Também ponho o de Romeu.

 

Uma semana depois

Lunga, no estacionamento

Foi saindo com o carro

Até passar por tormento

O alarme disparou

A polícia o abordou

Não teve nem argumento.

 

Era um carro igual ao dele

Não mudava nem a cor

O modelo, a capota

Pneu e radiador

Calota, marcha e breque

Iguais ao seu calhanbeque

Principalmente o motor.

 

Lunga tomou providência

Ali, no calor da hora

Pra não mais se confundir

Tirou da bota a espora

Riscou toda a pintura

Disse: --olhe que belezura

Quero ver trocar agora.

 

Em uma liquidação

De artigos para o lar

Vendia elétro-doméstico

Cama e mesa de jantar

Lunga estava à reboque

Conferindo todo o estoque

Para ver o que levar.

 

Foi então que o locutor

Percebendo o movimento

Anunciou aparelhos

De umas marcas de sustento

No uso do microfone

Disse: --esse DVD Sony

É último lançamento.

 

Lunga gritou:-- abestado,

Deixe de ser mentiroso

A Sony não vai fechar

Não seja fantasioso

Diga assim, seu demente

Esse aqui é o mais recente

Senão fica duvidoso.

 

Disponível em:

http://cordeldamulestia.blogspot.com/2008/01/as-proezas-de-seu-lunga.html

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