A FORMIGA E A NEVE
(Coletado por Sílvio Romero em Sergipe)
UMA VEZ UMA FORMIGA FOI ao campo e ficou presa num pouco de neve.
Então ela disse à neve: “Ó neve, tu és tão valente que o meu pé prendes?” A
neve respondeu: “Eu sou valente, mas o sol me derrete.” Ela foi ao sol e disse:
“Ó sol, tu és tão valente que derretes a neve, a neve que meu pé prende?” O sol
respondeu: “Eu sou valente, mas a nuvem me esconde.” Ela foi à nuvem e disse:
“Ó nuvem, tu és tão valente que escondes o sol, o sol que derrete a neve, a
neve que meu pé prende?” A nuvem respondeu: “Eu sou valente, mas o vento me
des- mancha.” Ela foi ao vento: “Ó vento, tu és tão valente que desmanchas a
nuvem, a nuvem que cobre o sol, o sol que derrete a neve, a neve que meu pé
prende?”
— “Sou valente,
mas a parede me faz parar.” Vai à parede: “Ó parede, tu és tão valente que
paras o vento, o vento que desmancha a nuvem, a nuvem que esconde o sol, o sol
que derrete a neve, a neve que meu pé prende?”
— “Sou valente mas o rato me fura.” Foi ao rato: “Ó
rato, tu és tão valente que furas a parede, a parede que para o vento, o vento
que desmancha a nuvem, a nuvem que esconde o sol, o sol que derrete a neve, a
neve que meu pé prende?” — “Sou valente, mas o gato me come.” Vai ao gato: “Ó
gato, tu és tão valente que comes o rato, o rato que fura a parede, a parede
que para o vento, o vento que desmancha a nuvem, a nuvem que esconde o sol, o
sol que derrete a neve, a neve que meu pé prende?”
— “Sou valente, mas o cachorro me bate.” Vai ao
cachorro: “Tu és tão valente que bates no gato, que come o rato, que fura a
parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, que derrete
a neve que meu pé prende?”
—“Sou valente, mas a onça me devora.” Vai à onça: “Tu
és tão valente que devoras o cachorro, que bate no gato, que come o rato, que
fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, que
derrete a neve que meu pé prende?”
— “Eu sou valente, mas o homem me mata.” Vai ao homem:
“Ó homem, tu és tão valente que matas a onça, que devora o cachorro, que bate
no gato, que come o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a
nuvem, que esconde o sol, que derrete a neve que meu pé prende?”
— “Eu sou valente, mas Deus me acaba.” Foi a Deus: “Ó
Deus, tu és tão valente que acabas o homem, que mata a onça, que devora o
cachorro, que bate no gato, que come o rato, que fura a parede, que para o
vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, que derrete a neve que meu pé
prende?” Deus respondeu: “Formiga, vai furtar.” Por isso é que a formiga vive sempre
ativa e furtando.
Disponível em: CONTOS POPULARES DO BRASIL Sílvio Romero
coleção acervo brasileiro cadernos do mundo inteiro Coleção acervo brasileiro
Volume 3, 2017, Jundiaí, SP.
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